25/03/2004

Sobre os livros ressentidos
Livros são encantadores, no sentido real da palavra. De fato causam encanto. Comprar livros é uma compulsão maravilhosa, não fossem (logicamente) os preços. O universo das livrarias, ou qualquer lugar onde se vendam livros, traz uma aura diferente. O mesmo vale para Bibliotecas. Quando nos vemos cercados por aquelas estantes forradas das mais diversas obras há um sentimento imediato de querer conhecer todos aqueles escritos. E então nos sentimos pequenos, inclusive por uma questão física, e ignorantes. Impossível ler tudo aquilo, mil anos não bastariam. No entanto a angústia é passageira, pois o manuseio e o início da leitura de apenas um daqueles objetos já basta, por algumas horas, para uma dose grande deste encantamento. Logo nasce uma paixão, o livro torna-se parte de nós. Dorme ao nosso lado, compõe nossos sonhos, nos faz companhia nas mais enfadonhas horas de espera. Nada pode ser comparado a uma relação assim tão íntima. Ler é sempre solitário e proporciona, portanto, horas de rara proximidade com nós mesmos.
Temer a extinção dos livros impressos não pode fazer sentido se pensarmos no quanto estamos ligados emocionalmente a eles. A ternura das folhas de papel não pode ser substituída pela frieza brilhante de uma tela de computador. Nosso contato com as palavras escritas é físico e nosso prazer consiste em toca-las, senti-las, para então as amar. Impossível abandonar estes tesouros que há tanto nos acompanham, eles não nos perdoariam.

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