04/12/2007

dança

Dançar
só, no meio da noite
com música solitária
Apenas paea mim
contida em meus ouvidos
poupando os vizinhos que dormem.
Dançar
no descontrole
quando ninguém olha.
Suar
até me desfazer.
Meu reflexo dançante
no vidro da janela.
Talvez alguém espie
essa dança noturna.
Em vez do suor do gozo,
um outro transpirar.
A dança solitária
quando ninguém olha.

penumbra

Escrevo na penumbra
palavras em vigília.
A fumaça na noite me atrai,
faz a necessidade
de algo se produzir.
A escrita aparece
nessa hora cansada,
nessa hora estendida
que impede adormecer.
Algo me move a prolongar
o sofrimento do cansaço por vir.
A hora escura,
silenciosa, solitária
desperta algum movimento
além do dia,
além do mesmo.
Respira.

30/10/2007

pardal

De Kooning

em julho, eu dizia que queria mesmo ser pardal.
e então descubro que pardal, piaf, tudo a mesma coisa.

um pardal dolorido, la môme piaf. que este destino reumático me escape, espero.
mas apenas uma dor tão grande pode resultar numa voz tão forte, tão potente, tão vibrante.

olhos abertos (bem)

com o olhar aberto
para dentro
para a dor

o que não se sabe dizer.
e o medo de saber
o medo de ver
o que não se quer

saber de mim
o que evito descobrir
longe de mim
londe de nós
modo de usar
modo de sobreviver

15/10/2007

quase

quase cai
mas não cai

quase vai
mas deixa de ir

quase fica
mas desiste, e parte

quase pode
mas impede

se impede
não pode
não deixa
não quer

morreu.

06/07/2007

outsider

escrever na hora fria
no vazio da noite
de cada noite minha

escrever no limite
de não fazer o resto
aquilo que precisa ser feito

gastar e regastar o limite da noite
quando é mais silencioso
quando ninguém vê
(então, viro parda)

mas queria virar pardal
na liberdade da noite
não ter hora de vôo
fora do expediente

20/06/2007

depois do buraco

um silêncio na escrita. desde quando? desde que as coisas (coisas?) mudaram de lugar.

desloquei o eixo
novo horizonte
outro marco.
marco 19. 21. 43.
mas não zero.

sem dar jeito, porém
nas mudanças que continuam na fila
a fila interminável
de imutabilidades

e aí, continuo sem saída.
dores de barriga e pele em frangalhos.

a dúvida que não ajuda.
nem resolve. (e eu continuo a escrever aqui)

01/05/2007

cummings

para não esquecer, estas palavras:

i like my body when it is with your

i like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric furr, and what-is-it comes
over parting flesh....And eyes big love-crumbs,

and possibly i like the thrill

of under me you so quite new

de & (1925)

e. e. cummings

o que move

(modigliani)


lua gigante, redonda, no céu
mas não posso dizer
não faz frio, nem calor demais
e ainda não posso dizer
acaba o feriado e nada resta a ser feito
não posso dizer, mesmo assim
as músicas são todas apropriadas
e é impossível, não importa, dizer
não estou muito triste, tão pouco feliz
e nada, nada, me move a dizer
poderia chamar a qualquer momento
poderia escrever
ou mesmo mandar uma mensagem, curta
mas tudo trava na hora de dizer
e se a hora chegasse
se eu fizesse tudo para isso, tudo o que posso
(e sei que posso fazer)
não seria uma questão de poder, mas de saber
devo, enfim, dizer?

05/03/2007

reading back

quando volto e leio o que já escrevi
me sinto a mais de tola de todos os tolos

o bom do virtual (provisório, sempre provisório) é que dá para apagar.
o real é mais difícil

notícias no novo ano

inaugurando um pouco tarde isto aqui
notas do novo ano quase velho
já passou um bocado de 2007
mas eu tinha de soltar algo

às vezes, a gente precisa de mais tempo do que imagina
mas demora tanto para passar