16/12/2008

instante

como tudo pode
se desfazer
dentro de um instante
o ínfimo momento
em que algo quebra
parte em milhares
de minúsculos pedaços
irrisórios
e não junta mais...
até que?
será possível, ainda,
reuni-los?

11/12/2008

Férias

Melanina
Embala o corpo
Com tom de verão

O dia se esvai
Na tênue linha
Que risca o céu
Do mar.

plâncton

Olhe para dentro
Das idéias flutuantes
Olhe mais de perto
E busque os pontos
De luz fluorescente

sem falo

Não fala a mulher

Sem o falo.

Nada pode,

Recolhida.

A fome feminina

É de engolir inteiro,

Sem mastigar.

No silêncio.

04/11/2008

maus-hábitos

círculo das não-vaidades
tudo conflui para um corpo pouco sadio
talvez se eu fumasse, não me fizesse tão mal
tanto quanto fazem os meus maus-hábitos

ultrapasso sempre o limite do sono
o limite do peso
do cuidado com meu corpo
e, por outro lado, tenho tanto medo de machucá-lo
temo qualquer vacina
qualquer injeção
qualquer dor física, a mais ou a menos

temo me arrebentar inteira e perder a mobilidade
temo que o avião caia comigo dentro
sou apenas temores com o corpo

e se eu tiver uma doença silenciosa
que me mate de dor daqui a um tempo?

tudo que fragiliza meu corpo me apavora
a minha pele em frangalhos
a cabeça que teima em continuar descamando.
sinto pavor desse sintoma físico, pavor.

agora resolvi não mais lutar contra a minha ansiedade
mas sim nocauteá-la, entendê-la, ela que me incita essa gula desmedida
esse afã de enfiar comida em mim.

eu hei de vencer meu corpo, minha não-vontade, com vontade.

afe...

07/07/2008

se tudo pode ser tão intenso
então, por que não?

07/05/2008

a casa

a casa colorida
sonhei com essa casa
de paredes vermelhas
laranjas. talvez até amarelas
a casa de teto alto
com a larga mesa, madeira clara.
casa meio do méxico,
pareceu.
a casa flutuava de tanta leveza.
tanta casa
tanta gente
tanta coisa.
risos, lembranças.
coisas criadas, antes.
o que antes pôde ser leve.
o que pôde.
eu flanava no sentimento dessa casa.
um abraço
atrás de mim. um beijo, na nuca.
nunca, poderia pensar. como?
apenas leve. releve, bem mais leve.
um beijo e um abraço.
e flutuar. na casa colorida,
de paredes mexicanas.
e a grande mesa,
todo mundo em volta.
teto alto. sorriso largo.

riliz

just release your release
liberte-se
liberte-se de tudo
release your releases
release and relax
liberte-se de uma vez
be a man
livre-se do riliz
release yourself
release your riliz
go ease on the release
go

20/02/2008

percepçao

só agora percebo
que o ser é mesmo só.
que, no frigir dos ovos,
sou eu comigo mesma,
e mais ninguém.
que não importa a expectativa
o olhar do outro
o desejo de ser
o que o outro deseja de mim.
tenho de me encarar
só, de cara,
com minha cara.
eu e minha cara vida.
e só, percebo,
como estou sozinha.

07/02/2008

depois

todos aquelas coisas que deixo para depois.

como: dormir (o que faço nesse exato momento)
escovar os dentes logo que chego do almoço
certas ligações
certas cartas
certas mensagens
certos convites
planos
viagens
falas
trabalhos
livros
conversas
falas
poemas por escrever.
melancolia pode ser um bom consolo para uma vida sem graça.

será?

forte

são aqueles dias
quando parece que uma mão
vem, se enfia pela garganta,
agarra o coração e o arranca
de uma só puxada.

forte, certeira
e você sente cada artéria ligada a ele descolar-se
arrebentando todos os seus vasos pulsantes.
e a sua garganta fecha. você engole seco.
tudo no peito fica mexido. as entranhas latejantes.

isso, você poderia pensar, é um dia mais triste do que os outros.